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A vida pós-deprê

Se você me perguntar o que aconteceu entre meus 28 anos até os 34, eu não sei responder. Quando penso nessa época, a única coisa que me lembro é de estar triste. Foram cinco anos, mais ou menos, mal conseguindo sair de casa, às vezes nem da cama. Foi bem difícil.

Em janeiro desse ano, no entanto, recebi alta. Já são três anos sem crise de pânico; 6 meses desde que meu psiquiatra tirou os remédios. E é inevitável essa sensação de que eu acordei depois de um longo sono ruim. Esse texto são as minhas impressões de como é melhorar depois de tanto tempo em depressão.

Em primeiro lugar, chama a atenção a quantidade de tempo livre. É impressionante como o dia rende quando você não está infeliz o tempo todo. O problema é que depois da sua vida ficar parada tanto tempo, eu não tinha o que fazer. A primeira coisa que me pegou foi o tédio. O canal de futebol surgiu assim, de um desespero de achar alguma atividade. Ainda me surpreendo que ele tenha dado certo da maneira que deu.

Em seguida, você precisa ressuscitar socialmente.

Eventualmente, meus amigos pararam de me ligar. Não por maldade, mas por saber que eu ia dizer não e, depois que se tornou público, que eu não tinha condição de ir para lugar nenhum. A gente some, e é chocante o quão rápido você consegue se distanciar de pessoas que eram tão especiais para você. E o mais difícil é que a vida delas segue em frente.

Nesses anos, minha turma namorou, casou, fizeram carreira, alguns estão tendo filho agora. E eu fiquei parado no tempo. Com as meninas, a mesma coisa. Minha vida toda, entre idas e vindas, eu orbitei entre as mesmas três garotas e eu tinha certeza absoluta que acabaria com uma delas. Me deem um desconto porque eu tinha, sei lá, uns 26, 27 anos, mas eu era convicto que eventualmente as coisas iam se alinhar, eu entraria num relacionamento sério com alguma delas e seria isso. Porém, como os meus amigos, a vida delas também seguiu em frente. Também noivaram, casaram, mudaram de cidade e por aí vai. O tempo não espera por ninguém, e isso é algo que a gente precisa aprender a lidar.

Confesso que quando eu parei de ficar triste, comecei a ficar puto - com as oportunidades que eu perdi, com a injustiça de ter sofrido essa merda, enfim, com a situação em si - mas ficar puto também não serve para nada. É verdade que minha vida hoje não é nada do que eu imaginava que seria nessa idade; não imaginava que seria tão solitária, tampouco que eu seria tik toker. Porém, mas uma vez, não há o que fazer. Quando eu conto isso, as pessoas usam uma frase que eu odeio: “recuperar o tempo perdido”. Tempo não se recupera. Eu jamais terei 29, 30 ou 31 anos de novo. Passou, já era, enquanto eu estava agorafóbico no meu quarto. E uma das coisas mais difíceis é justamente se perdoar por tudo isso e desapegar; tentar olhar apenas pra frente mesmo quando há tanto no passado que eu gostaria que tivesse sido diferente.

O que nos leva a coisa mais maluca de todas após passar tantos anos mal, que é, literalmente, viver de novo. Fazer planos, criar expectativas, sair, correr riscos, quebrar a cara e por aí vai. A gente se fecha num estado de auto proteção, cria nossa própria redoma de vidro, e é mais difícil do que se imagina sair dela. Modéstia à parte, exige uma coragem do cacete. Coragem diária, alias, porque eu sei que existe a possibilidade de, um dia, voltar a ter crises ou depressão. Mas se isso acontecer, eu vou fazer tudo de novo e vou melhorar de novo. Hoje eu tenho certeza disso e por isso não tenho mais tanto medo. Só pouquinho.

Fiz mais nos últimos meses do que nos últimos anos somados. Não suporto mais festas, mas vou mesmo assim. Abandonei o Bumble, parei (quase) de fumar. Me esforço o máximo possível para encontrar as pessoas queridas com quem perdi contato e, quem sabe, até conhecer gente nova. Eu sei que parece muito pouco, e é mesmo. Mas comparado com o que era minha vida até não tanto tempo atrás, é quase outro mundo.

 

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