A pandemia foi cruel com o mundo, sádica com os brasileiros e insensível com os solteiros; com os solteiros que de fato seguiram as recomendações de isolamento, então, foi um tapa na cara.
Curioso que só eu, fiz uma pesquisa com amigos, homens e mulheres, para descobrir como lidaram com esse ano de solidão implacável. Eis as respostas mais comuns: apps de paquera, nudes, desenvolvimento de relação estável com um pinto de borracha (ou similares), pornô, mensagem para ex, mensagem aleatória para qualquer pessoa disposta a te dar atenção, “usei esse tempo para me concentrar em outras coisas” e “comprei um cachorro”.
Foi e é muito difícil. Sei que graças ao mal deste século, que é tentar tirar lições mesmo de tragédias sem sentido como uma pandemia mundial, há quem diga que esse tempo sozinho foi bom, ajudou no auto-conhecimento e blá blá blá; belo discurso, pena que eu conheço vocês. Aristóteles escreveu que quem sente prazer na solidão ou é uma fera selvagem ou é Deus, e se o Covid provou alguma coisa, é que estamos muito mais perto das feras.
Paralelamente, no entanto, a vacinação, mesmo que em passos de formiga e sem vontade, está acontecendo e, de forma chocante, ninguém parece preocupado com os desesperados por um abraço, beijo, sexo e contato humano. A atual lista de comorbidades do Estado de São Paulo inclui diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, cancêr, HIV, doenças neurológicas e obesidade, mas não carência. Injusto, né?
Nos EUA, baseado no comportamento depois de outras tragédias mundiais, já se preparam para o pandemic boom, um surto de consumo e relacionamentos (me recuso a escrever promiscuidade)que ganhará força com o fim da vacinação e das medidas de segurança. Aqui, ainda precisamos lutar com fake news de que a vacina mata mais que a doença - é difícil estar sozinho, mas nunca foi tão difícil ser brasileiro.
Por tudo isso, defendo que o jovem (?) carente entre 20 e 40 anos merece ser vacinada também. Precisamos acabar com essa loucura. Precisamos do nosso pandemic boom. Encalhados do mundo, uni-vos. E, por favor, leiam esse texto com ironia.
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