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Já imaginou a vida sem estaduais?

O que são os campeonatos estaduais hoje em dia? São torneios ultrapassados cuja a principal função é servir aos interesses das federações e da CBF, que obrigam times com folhas milionárias a passar 1/3 da temporada enfrentando equipes das séries B, C e D e que, via de regra, só valem para quem vence. A exceção dessa lógica é a Copa do Nordeste, que se tornou um torneio importante e desejado na região.

Diante disso, todo ano se discute a existência deles, quase sempre com foco na questão do calendário anual do nosso futebol. No entanto, nos últimos anos, um outro aspecto surgiu e, curiosamente, vem dando força aos campeonatos.

O ano de 2015 marcou o “retorno” de Flamengo e Palmeiras, que a partir de então dominaram o futebol nacional e sul-americano. E este domínio gera consequências na vida dos demais.

Desde 2015, se somarmos Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores e os cinco maiores estaduais do país (Paulista, Carioca, Gaúcho, Mineiro e Copa do Nordeste), 20 equipes diferentes foram campeãs no mínimo uma vez. Se excluírmos os estaduais da conta, esse número cai para 7. Ou seja, nas últimas 7 temporadas (2015-2022), apenas 7 equipes venceram Brasileiro, Copa do Brasil ou Libertadores.

Sem estaduais, Botafogo, Vasco, Internacional e São Paulo, só para citar 4 gigantes, estariam numa fila de mais de uma década. O fim do torneio pode significar o derradeiro processo de “europarização”: um universo em que diversos times passam 10, 15, 20 ou 30 anos sem vencer nada.

Hoje, para 80% das equipes na 1ª divisão, o estadual é a única chance de vencer um título na temporada, já que é muito difícil ver outro time além de Flamengo ou Palmeiras vencendo os grandes torneios, a não ser, talvez, o Galo. Óbvio que há a possibilidade desses times terem problemas e abrirem espaço para os demais, porém o próprio fato de ser preciso uma crise para os outros terem chance prova a superioridade que a equipe paulista e carioca têm no momento.

Tudo isso tem gerado uma nova onda de interesse por parte das torcidas e até dirigentes. Já não se ouve com tanta frequência o mantra de “estadual é pré-temporada”. Em 2021, a diretoria do São Paulo definiu o Paulista como “copa do mundo”, algo impensável em outros momentos da história vencedora do tricolor. E para a minha tristeza, já que sou um opositor declarado à existência desses torneios, a verdade é que, nos próximos anos, veremos equipes e torcedores batalhando pela manutenção deles.

Num mundo ideal, ao ver duas equipes se destacando, os demais tentariam fazer o mesmo, ou seja, diminuir as dívidas, profissionalizar suas gestões e etc. Mas o futebol brasileiro está longe de ser o mundo ideal. Iludir o torcedor e se agarrar a jargões como “uma hora a conta chega” é mais fácil para muitos dirigentes. Daqui a pouco fará uma década que estão esperando a conta chegar para Palmeiras e Flamengo, e eles continuam a empilhar taças.

De âncora que afunda nosso calendário, os estaduais estão virando bote salva-vidas para uma porção de clubes sem condições de disputar títulos maiores e este processo já pode ser visto claramente nas reações dos torcedores. O que é triste, pois essas equipes de histórias riquíssimas merecem muito mais.



*Times que venceram pelo menos um título desde 2015:

Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Atlético Mineiro, América, Cruzeiro, Athlético Paranaense, Grêmio, Internacional, Novo Hamburgo, Ceará, Santa Cruz, Bahia, Sampaio Corrêa e Fortaleza.


*Times que venceram pelo menos um título desde 2015 , excluindo estaduais:

Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Atlético Mineiro, Grêmio, Cruzeiro e Atlético Paranaense.

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