Com a pandemia do vírus, primeiro veio a epidemia das Lives; era live todo dia, do Caetano Veloso a sua vizinha Bolsonarista. Depois veio o “negacionismo ostentação”: você deprê em casa assistindo The Crown e seus stories cheios de gente na balada como se nada estivesse acontecendo. Agora são os cursos. Que inferno.
Desde a semana passada, comecei a anotar todos os cursos que foram oferecidos a mim na rede social. São eles: Curso completo de guitarra, curso de harmonia, modos gregos, aprenda a solar, como viver de música, como captar patrocínio, como atrair público para sua música, curso de microexpressões faciais, amarração amorosa, como viver de internet, como ficar rico na internet, como passar em concurso público, guia para escrever seu romance, como publicar seu livro, como viver de escrita, treinando seu cachorro, coach vocal para falar em público, curso de drives vocais para canto, táticas para xavecar por mensagem de texto, como dobrar o lucro do seu supermercado, investindo em bit coin, investindo na bolsa, investindo em tesouro direto, como triplicar sua renda em 90 dias, aprenda japonês, chinês, italiano, francês, guia para day trade e como viver apenas de investimento.
31, em apenas uma semana. Saudades do tempo que o Instagram era só gatilho de ansiedade e gente feliz. Você navega pelo aplicativo como quem caminha numa feirinha no centro - é gente te puxando por todos os lados e, de vez um quando, um golpe.
Eu entendo que a pandemia é cruel, e que muita gente está precisando se reinventar. Muitos, aliás, têm conseguido, produzindo conteúdo de qualidade. No entanto, não dá para todo mundo viver de internet. Os cursos no instagram parecem as paleterias mexicanas: um monte de gente está investindo nisso como se fosse "A" grande oportunidade e, quando a moda passa, só deixa prejuízo.
Irrita um pouco mais o fato de já existir um pré-formato para esse modelo de negócio, que todos copiam - não importa quando você entre na página, o curso está sempre com 50% de desconto, por tempo limitado e restando poucas vagas.
Resolvi escrever esse texto porque não é possível que eu seja o único que se incomode com isso. Como todo mundo, eu também mergulho no ócio do Instagram, principalmente de madrugada. Mas não dá. Parece um comercial da Casas Bahia, a cada dois stories pula alguém na sua cara perguntando “quer pagar quanto?”. Não quero pagar nada, gente. Só quero sobreviver à pandemia. Acreditem na vacina, apoiem o SUS e fora Bozo. Abraço.
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