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O sequestro do São Paulo

O time grande, quando entra em crise - a fila, a sucessão de atletas ridículos, os vexames - vive um paradoxo: ele ao mesmo tempo é e não é a instituição que ele representa.

Quando criança, eu vi o Palmeiras ser campeão pela última vez aos 9 anos de idade. Depois disso, só fui ver outro título grande, a Copa do Brasil de 2012, aos 21 anos. Neste intervalo, só os Palmeirenses sabem como eu sofri nas arquibancadas do Palestra Itália. E hoje, os São Paulinos sabem também.

Da mesma forma que o Palmeiras de Gioino, Eguren e Adriano Michael Jackson não era o Palmeiras da Academia, o Tricolor que joga hoje não é o de Raí, Careca e Telê. Ao mesmo tempo, no entanto, é a mesma camisa, o mesmo nome, o mesmo escudo. E o mais doloroso: a mesma torcida.

É uma sensação alucinante essa de olhar para o gramado e pensar “o que fizeram com meu time?”. É um sequestro. E ninguém sabe qual o preço para tê-lo de volta.

No caso do São Paulo, porém, os responsáveis tem nome.

Enquanto eu sofria com o Palmeiras nos anos 2000, o São Paulo empilhava taças; e a mesma pergunta que se faz hoje, se o Flamengo virará o novo Bayern de Munique que dominará o futebol brasileiro, era feita sobre o tricolor do Morumbi. E em uma década tudo foi colocado abaixo.

Roubando a frase do Darcy Ribeiro, a crise do São Paulo não é uma crise, mas um projeto. Do terceiro mandato de Juvenal em diante, diretorias fizeram tudo por si e nada pelo clube. E o resultado disso é esse time que entra em campo com a camisa do São Paulo, com as estrelas de campeão do mundo do São Paulo e joga no estádio do São Paulo, mas não é o São Paulo. Porque o São Paulo é muito mais. É o time onde a moeda cai em pé; hoje, se jogarem a moeda para cima, é capaz de algum diretor guardá-la no bolso.

E para comprovar minha tese, enquanto time se afunda numa crise técnica que envolve duas possíveis eliminações e até uma briga por rebaixamento, os dirigentes estão preocupados com o quê? Articular uma reeleição, repetir o erro que deu início a tudo isso, lá atrás, quando Juvenal emplacou o terceiro mandato. E aquele São Paulo, o campeão, segue sequestrado. E este é o maior crime do futebol. O São paulino merece ter seu time de volta.

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