Dessa vez, realmente achei que era meu ano.
Em janeiro, achei que ficaria rico. Chegou dezembro, e nada. Assisti, in loco, meu time perder, em casa, para o maior rival. Sem nenhum motivo racional, adquiri outro cachorro. Minha avó tentou me matar do coração, meu avô tentou me matar do coração; nenhum deles entende a fragilidade psicológica do neto. Fiquei surdo de vez, meu ouvido esquerdo é, oficialmente, meramente decorativo. Li sessenta romances.
Nasceram mais cabelos brancos, o Keith Richards continua vivo, caí de bêbado, repetidas vezes, no largo da batata. Me fechei em casa por motivos de mundial. Perdi todo o amor por Neymar e Tite. Criei uma conta no Twiter, me arrependi amargamente, mas ainda não consegui apagar essa merda. Serei tio mais uma vez. Um adolescente na rua me chamou de “tio” pela primeira vez. As músicas mais ouvidas do meu Spotfy foram Leave a Tender Moment Alone, do Billy Joel, Life Like This, do Kurt Vile e My Love Will Not Let You Down, do Bruce Springsteen. Fui para Lima e vivi uma das noites mais engraçadas da minha vida, quando, obviamente bêbado, comi um frango assado inteiro as três e meia da manhã. Nessa noite tive a ideia para outro livro.
Escrevi outro romance: mais um protagonista deprimido, mais uma Marcella, mais uma história de, como bem define meu irmão, meninos privilegiados em crise existencial; maldosamente, ele compreende toda minha obra como uma versão de The OC em que Cohen toma Rivotril. Terminei meu livro de poesia. Parei de tomar ansiolítico; durou três meses essa aventura. Tive outra crise, voltei a tomar ansiolítico. Consegui a guitarra dos meus sonhos. Perdi amigos nas eleições. Acreditei no Ciro Gomes, fiz campanha por Ciro Gomes, hoje não suporto Ciro Gomes. Tive fé na virada. Escrevi um texto político que atingiu muita gente. Ganhei meus primeiros haters. Uma senhora me chamou de comunista. Uma porrada de gente, na verdade, chamou a mim e todo mundo que eu gosto de comunista, o que prova a piadinha de que, nessas eleições, se você não foi chamado de comunista, boa pessoa não é. Dei graças a Deus por estar de volta aos remédios quando saiu o resultado das urnas.
Fui campeão brasileiro, perdi mais uma libertadores para o Boca. Larguei a pós. Meu sobrinho disse que eu sou a pessoa mais legal do mundo e que preciso de uma namorada. Escrevi menos para este site do que deveria. Aprendi a cantar Non Je Ne Regrette Rien em francês. Comprei um Ukelele. Completei quatro anos sem beber refrigerante. E cinco como fumante. E vinte e nove como ser humano. Aprendi a fazer Dry Martini. Desisti de ler David Foster Wallace. Deixei dezenas de resoluções para o ano que vem. Realmente acho que 2019, agora sim, é meu ano. Adiós 2018, você não foi para amadores.