Em um de seus vários momentos de genialidade, Virginia Woolf escreveu que “há uma indiferença notória do mundo. Ele não pede às pessoas que escrevam poemas, romances e histórias; ele não precisa disso”. De fato, se pensarmos bem, a profissão de escritor é o que há de mais prepotente - sem ninguém pedir, você passa meses escrevendo uma história que só faz sentido na sua cabeça, com a expectativa de que alguém te dê dinheiro pelo direito de publicá-la e, pasmem, outras tantas paguem pelo privilégio de lê-la. Quando Doctorow disse que escrever é uma forma aceitável de esquizofrenia, provavelmente era nisso que ele estava pensando.
A pegadinha, no entanto, principalmente quando você é um escritor iniciante, é que a realidade dá um jeito de esmagar todas as suas expectativas para te lembrar, como Woolf disse, que o mundo nunca te pediu para escrever.
Em 1999, os jogadores Vampeta e Dinei, do Corinthians, posaram nus para a G Magazine. Logo em seguida, disputaram as quartas de finais da Libertadores contra o Palmeiras; a partida terminou nos penaltis, e justo os dois peladões perderam as cobranças que classificaram o rival, fazendo com que a partida ganhasse a manchete “toda nudez será castigada”, em alusão à peça de Nelson Rodrigues. A prepotência também é castigada.
A primeira parte, escrever, é fácil. É um inferno de meses e anos, mas também um prazer - já fiz ioga, já fumei maconha e já tomei Rivotril, mas nada se compara ao que acontece quando consigo me transportar para a realidade paralela da minha cabeça, e acho que isso vale para todos os escritores, mesmo os mais atormentados. A segunda e terceira parte, que consiste basicamente em ser lido, seja pela editora ou por um público, são mais complexas.
Dezenas de e-mails respondidos com o introito das más notícias: “obrigado pelo seu contato mas...”, a sensação de invisibilidade, a rejeição. Lembra quando você era adolescente e se arrumava todo para a festinha, e quando chegava lá percebia que sua mãe mentiu e você não é o rapaz mais bonito do mundo? É mais ou menos a mesma coisa.
É óbvio que há argumentos contrários. Que hoje, com a internet e a cultura do faça você mesmo, você pode se divulgar no Tik Tok, criar uma página de poemas no Instagram, passar o dia fazendo comentários espirituosos no Twitter. Sobre isso, só tenho uma coisa a dizer: prefiro a morte.
Nos resta a espera, que é a espera do escritor: a espera de que algum editor, eventualmente, perderá 5 minutos para ler seu texto, que algum leitor, sufocado com uma infinidades de links e clique aqui, escolherá justamente a sua página para clicar. Que uma hora alguém lerá suas coisas e se sentirá tocado de alguma maneira, e te dirá que o mundo não pediu para você escrever isso, mas que bom que você escreveu. Até lá, você espera. E escreve, afinal é só isso que importa.