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Leila, a Dom Quixote da Pompeia


Em 1605, Miguel de Cervantes publicou sua obra prima, Dom Quixote de La Mancha, a história de um nobre espanhol que leu tantos romances de cavaleiros que passa a acreditar que é um, e então sai em busca de aventuras.

Anacrônico e desconectado com a realidade, ele se perde em sua própria fantasia, confundindo moinhos de vento com gigantes, amigos com inimigos e estátuas com princesas. Muito à frente de seu tempo, o livro chega a ser humorístico, ante o choque entre os delírios do “cavaleiro” e as reações dos demais personagens, que vivem na realidade.

Pois bem, assim como o livro e pelos mesmos motivos, foi cômica também a recente coletiva da presidente do Palmeiras, Leila Pereira.

Tal qual Dom Quixote, Leila é vítima da própria fantasia. Ela se vê como o cavaleiro de capa e espada que salvou o Palmeiras, quando na verdade o clube é muito maior que ela. Parece realmente acreditar que o alviverde surgiu em 2015, não em 1914. Cita a quantia que suas empresas investiram no clube, mas não o retorno imenso que as mesmas tiveram com a exposição da marca, além do retorno dela própria, Leila, que se tornou uma celebridade do mundo da bola graças ao verdão. Se recusa a reconhecer a participação de Paulo Nobre no ressurgimento da equipe pro cenário nacional, e sustenta uma narrativa de que tudo começou com a Crefisa.

No livro de Cervantes há uma passagem que diz: “Entre os pecados maiores que os homens cometem, ainda que alguns digam que é a soberba, eu digo que é a falta de agradecimento”, e poderia muito bem ter sido dita pela presidente - por toda essa aventura que criou para si, ela espera nada menos do que aplausos e gratidão da torcida palmeirense.

Metáforas literárias à parte, se voltarmos ao começo da gestão Galiotte, veremos que ele também foi muito criticado, também recebeu apelidos pejorativos e foi duramente comparado ao Paulo Nobre. Galiotte, no entanto, sempre teve uma postura conciliatória, o discurso de “a torcida está certa em cobrar e vamos continuar trabalhando”, e foi assim até começar a vencer.

Leila, por outro lado, prefere o confronto e, acima de tudo, opta por um tom que tira o palmeirense do sério: esse ar de que ela está fazendo um favor ao clube. Isso ficou muito claro na entrevista de terça, e é uma ideia tão maluca que beira o delírio. E a consequência é que, mesmo estando longe de ser a pior mandatária da história alviverde, ela está construindo um antagonismo com a própria torcida que é sem paralelo.

Nos resta agora acompanhar as cenas dos próximos capítulos. Se a Dom Quixote da Pompeia insistir na fantasia de que é a salvadora e ser mais importante do clube, acabará completamente isolada. Mas ainda há tempo dela aceitar seu papel numa história que é muito maior do que ela, a história do Palmeiras, no qual ela é apenas mais uma personagem.

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