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O bloco do eu sozinho

Tenho convicção que todo grande feito realizado por um homem teve como objetivo superar um pé na bunda. Quando Neil Armstrong pisou na lua, ele disse “é um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade”, porém no fundo ele estava pensando “olha só, Karen, quem é chato e previsível agora?”. Mas quando você é uma pessoa comum e não tem nenhuma grande realização para fazer, só sobra o Carnaval.

Minha tese ainda não confirmada é de que 60% dos solteiros num bloco de Carnaval estão tentando esquecer alguém, buscando validação na boca de estranhos. E essa é a principal diferença de ouvir um não aos 20 e aos 30: aos 20, você acha que transar com toda garota que te der bola vai apagar sua memória; aos 30, você sabe o quão difícil é encontrar alguém realmente especial, e por isso você se arrepende dos seus erros e das oportunidades que você perdeu. Aos 30, só o sexo não salva. Assim como a ressaca fica pior e a vida mais cara.

O final dos meus 20 anos foram um borrão. As crises de ansiedade e de pânico que eu tinha escondido desde moleque de repente não deram mais para esconder e as coisas saíram muito do controle. E tudo começou num carnaval, por isso é sempre uma época estranha. Agora, aos 33, estou quase há 2 anos sem nenhuma crise, recebi alta do psico, tirei os remédios, estou trabalhando e virei tik toker. É um universo de possibilidades que de repente se abriu, como ter vivido numa ilha deserta e conseguir voltar. Eu sou o Tom Hanks.

A consequência disso é que pela primeira vez me sinto capaz de estar com alguém, ficar com uma garota com paciência infinita para me aguentar e ser um casal. Fazer o que por muitos anos achei impossível, pois eu não acreditava que qualquer menina aguentaria alguém com meus problemas. É revolucionário parar de se achar a pior pessoa do mundo. Recomendo.

Aos 30, no entanto, você também sabe que quando a pessoa não gosta de você, não há nada que você possa fazer. Os sonhos de reconquista e os grandes gestos românticos são privilégios dos jovens. Só te resta respeitar, não mandar mais mensagem, parar de ver o Instagram dela de hora em hora e seguir em frente, por mais horripilante que seja a ideia de começar tudo de novo com outra pessoa. E como no começo do texto, tentar fazer algo de útil nesse tempo livre. Ontem comecei a tirar o solo de Fade To Black, do Metallica.

Hoje não tenho vergonha de dizer que entre estar namorando ou enfrentar 5 dias de pegação no bloco, preferiria mil vezes a primeira opção (se meu terapeuta ler isso, ele vai soltar rojão de felicidade). Mas não são essas as opções. Logo, Carnaval it is, porque não há nada que 32 cervejas com seus melhores amigos não resolvam. Além disso, é importante se lembrar de não ser dramático. Drama também é coisa de jovem.

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