O ressurgimento do Palmeiras pós-2015 não foi a partir de contratações internacionais bombásticas. Ao contrário, se baseou principalmente em escolhas acertadas dentro do futebol brasileiro.
Dudu (Grêmio), Veiga e Robinho (Coritiba), Zé Rafael (Bahia), Weverton e Rony (Atlhetico PR), V. Hugo (América), Roger Guedes (Criciúma), Jean e Scarpa (Fluminense), William e Mayke (Cruzeiro), M. Rocha (Atlético MG), Tchê Tchê (Audax), Arouca (Santos), Jaílson (Ceará) e Keno (Santa Cruz).
É uma enorme lista de atletas que o alviverde encontrou dentro do nosso futebol e que proporcionaram retorno técnico ou financeiro (muitos deles, ambos) e, principalmente, ajudaram o time a levantar uma porção de títulos. No entanto, já há algumas temporadas o clube abandonou esse modelo. E fica a dúvida, por quê?
Bom, o primeiro fator provavelmente foi a melhora na condição financeira dos clubes brasileiros em geral, em especial das equipes genericamente chamadas de “meio de tabela”. Fortaleza, Bahia e América, só para citar três exemplos, são hoje equipes estruturadas com condições de barrar a saída de jogadores ou, no mínimo, exigir um valor alto por eles. Ao contrário do passado, não basta mais o simples desejo do time grande para levar o jogador, e vemos todos os dias como as transações entre clubes da primeira divisão estão ficando cada vez mais raras (e caras).
Com relação ao Palmeiras, no entanto, há outro fator inegável: o Flamengo.
A partir de 2018, o clube carioca passou a fazer contratações gigantescas, trazendo jogadores de renome e por milhões de euros, a ponto de que, das 10 maiores contratações da história do futebol brasileiro, 7 são do Flamengo pós-2018, incluindo as 5 maiores.
O rubronegro passou a rivalizar com o Palmeiras pelos grandes títulos, e ambos estableceram 2 modelos bem diferentes: o Flamengo das contratações bombásticas, e o Palmeiras focado na base, manutenção do elenco e contratações pontuais. Porém, inevitavelmente, o modelo de um interfere no outro.
Uma coisa é você trazer uma aposta desconhecida como era o Veiga, dentro do modelo que o clube seguia. Outra é trazer uma aposta e, na mesma semana, o rival carioca anunciar a volta do Gerson por 90 milhões de reais ou Cebolinha por 70.
Se eles deram certo, não vem ao caso. O fato é o comportamento bem perceptivel do torcedor palmeirense nas redes sociais: o modelo de negócio do Flamengo criou no torcedor alviverde esse desejo também pela contração galáctica. E isso torna tudo mais difícil, porque toda promessa ou contratação de menor impacto já chega com a corneta de uma torcida sedenta por grife.
Resumindo meu ponto: em 2022, Flaco custou muito mais caro que o Vitor Roque para o Athletico, que estava perdido no Cruzeiro no auge da crise da equipe mineira. No entanto, se naquele momento, desesperado por um 9, o Palmeiras gasta 20 milhões de reais numa aposta de 17 anos de Minas Gerais, a torcida teria uma síncope. Ao invés disso, gastou-se 60 numa pretensa “grande contratação” argentina que já pode ser considerada uma decepção.
E com tudo isso, chegamos na diretoria, que parece perdida.
Ao contrário do que alguns pregam, o Palmeiras está longe de gastar pouco. O clube não tem mais buscado jogadores na primeira divisão brasileira, ao invés disso tem quebrado a cara em contratações internacionais caras que não deram o menor retorno. O elenco do clube hoje é formado pelo time titular multi-campeão e uma geração de jogadores sub-20 vindos da base. Entre esses dois grupos, não há ninguém, pois todas as investidas foram equivocadas.
A diretoria parece se sentir pressionada a trazer atletas de fora, no entanto não tem dinheiro ou capacidade para fechar com grandes estrelas e fica tentando o meio termo - não paga 15 em ninguém, mas erra em vários de 5.
Ao meu ver, o Palmeiras, nesta reta final de 2023, precisa de comunicação.
Fala-se agora que a diretoria irá buscar 4 reforços de peso para o ano que vem, mas o que serão “reforços de peso” para diretoria e para a torcida? Mais 4 atletas desconhecidos da MLS serão considerados grandes contratações? Ou a torcida só vai se contentar com negócios acima de 20 mi de euros vindo da Europa? O Palmeiras tem condições de trazer alguém por 20 milhões? Se o clube for atrás, por exemplo, do Caio Alexandre, que é um dos destaques da temporada pelo Fortaleza, haverá grita ou será um bom negócio?
O Palmeiras teve um modelo e se perdeu. E agora que a geração super campeã começa a sinalizar a necessidade de um processo de renovação do elenco, a incapacidade do clube em buscar soluções fica evidente.
A base não carregará o time sozinho. Alguns ídolos atuais talvez já não consigam repetir as temporadas passadas. O Palmeiras precisará ir ao mercado. Como? Só nos resta esperar para ver.
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